Foi
erguida em agosto deste ano, na cidade de Rio Branco, localizada em
meio à floresta Amazônica, uma enorme tenda de circo no
residencial Eldorado, um lugar com projetos habitacionais feitos pelo
Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Uma novidade na
comunidade, muitos ali nunca tinham visto uma estrutura como aquela
tão de perto. Era o projeto Rumos ao Novo Eldorado: Uma
experiência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável no Acre
que fincava o pau de roda (estrutura de metal) e estendia a lona
para criar um show com a própria comunidade. Mas a preparação
para aquele momento começou bem antes do mês de agosto.
Alcinethe
Damasceno, coordenadora do projeto, lembra que o Novos Rumos,
como também é conhecido, é financiado pelo Fundo Socioambiental
da Caixa. Ela se orgulha da ação ser uma das onze iniciativas
aprovadas em todo o país no Programa de Desenvolvimento Integrado e
Sustentável do Território (DIST). “No Brasil inteiro foram
universidades, ONGs, institutos, e só no Acre venceu uma empresa,
no caso a Ciranda, que trabalha com cultura, comunicação e meio
ambiente”, conta.
Usar
uma estrutura de circo para fazer as atividades na comunidade sempre
foi um diferencial do projeto. “Essa proposta de ter o circo é
pela itinerância, as possibilidades que o circo nos permite, de ser
um espaço amplo, lúdico, que atenda às necessidades da
comunidade, que não tem espaços comunitários”, afirma
Alcinethe.
Depois
do projeto aprovado, foram reuniões, passeios, pesquisas, mais
reuniões, contatos, trocas de ideias, atividades... Um exemplo foi
o passeio feito com a comunidade no Centro Histórico do Quixadá,
local histórico que existe na regional.
“Fizemos
uma expedição no Sítio Histórico do Quixadá, com um ator
representando um idoso, para conhecer esse território histórico e
geográfico. Porque essas pessoas vieram de outros locais e não
conheciam a região onde estavam vivendo. Faz parte do nosso
trabalho criar essa nova unidade, estabelecer um vínculo entre os
moradores e o lugar”, afirma.
Também
foi construída uma relação entre as pessoas que trabalhavam no
projeto e as que viviam no local antes de finalmente o circo ser
erguido. “Não tínhamos a tenda grande, então substituímos
por pequenos gazebos e as atividades aconteciam da mesma forma: nos
terreiros, nas ruas, espaços que conseguíamos ter uma
manutenção. Ocorriam atividades com palhaços, de educação
ambiental, grafite, cinema, dança e esporte”, lembra a
coordenadora.
E
olha que este não foi um ano fácil para o projeto. Muitos
obstáculos tiveram que ser superados. O Rio Acre alagou, deixando
inúmeras famílias desabrigadas. O Rio Madeira transbordou e o
Acre ficou isolado por semanas do restante do Brasil, impedindo que
alimentos, encomendas e o circo chegassem ao estado. A Copa atrasou
ainda mais o projeto, porque no país do futebol, um evento como
esse praticamente parou o Brasil por um mês. E ainda teve a
eleição! Devido a tantas dificuldades, muitas coisas do projeto
original precisaram ser adapta- das. Mas, em meio a tudo isso, o
circo se ergueu e as atividades começaram. E com todas elas, as
transformações lentas, gradativas, mas intensas.
O
projeto vai além do lúdico, da cultura ensinada por meio da arte
circense. Com produção de uma horta comunitária, hortiquintais
e ensinamentos sobre a permacultura, a educação ambiental é um
forte pilar desse projeto. A geração de renda e a economia
criativa também são fatores importantes do trabalho, que trouxe
benefícios sociais para a comunidade.
“Quando
a gente pensa em uma lona de circo, pensa em tudo que pode se
movimentar em torno dela: aglomeração de pessoas, a geração
de renda a partir dessa tenda, o aperfeiçoamento de produtos e
serviços, tudo isso acontecendo dentro de feiras. Entendemos a
cultura como uma base forte, realmente de transformação e de
mudança social”, afirma Alcinethe.
A
atividade circense vem aglomerar as pessoas e os ensinamentos nas
diversas áreas. É a transformação através da cultura, do
meio ambiente e da tecnologia social.
“Porque
aspectos culturais conseguem alcançar a comunidade em todas as
faixas etárias. A gente tem visto isso. Se constituiu um grupo de
adolescentes e crianças, que já fizeram apresentações, apesar
do pouco tempo de oficinas para a atividade circense. Mas, levando em
conta que aqui no Acre somos uma comunidade com a tradição de
terreiros e quintais, as pessoas brincam na rua, saltam... Essas
habilidades estão nas nossas crianças e isso é um potencial
muito grande”, acredita a coordenadora.
Neste
site, você vai descobrir mais sobre esse projeto e como ele, aos
poucos, foi modificando a vida no Eldorado.
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