sexta-feira, 6 de março de 2015

Reciclagem



O saco de cimento é um ótimo produto para reciclagem. É muito fácil! É só abrir o saco de cimento pela boca, sem rasgar. Então, corte o fundo e o topo com uma tesoura. Vão ficar dois sacos, um interno - que tem contato com o cimento, e outro externo. Corte novamente na emenda dos sacos, de forma a abri-los verticalmente, você terá então duas folhas de papel. Coloque-as dentro de um recipiente grande com água da chuva, apenas para limpar rapidamente, e estenda em um varal.

Após secar, o papel pode ser usado para confeccionar vários produtos, como cadernos, bolsas, usar para impressões, produzir imãs de geladeira, papel machê, pastas etc. 





É o fim?


Todo mundo sabe que circo não fica sempre no mesmo lugar. Eles circulam de cidade em cidade para mostrar suas apresentações. Todo circo é assim.

Durante meses, as crianças do Eldorado aproveitavam todo o tempo livre para ir ao circo e aprender a arte circense. Entre andar de monociclo e fazer malabarismo com bolas, eles também descobriram sobre a importância do meio ambiente e incentivaram seus pais a participaram das aulas de manicure e pedicure, pintura de parede ou informática.

Mas está chegando o fim do projeto e a hora de levantar a tenda e guardar as coisas.

Ninguém quer que o projeto saia do Eldorado, as pesquisas feitas pela Ciranda mostram que todos querem que o projeto continue na comunidade. Para Alcinethe Damasceno, o ideal é que o projeto pudesse ficar por pelo menos três anos. Mas como tudo depende de dinheiro, chega a hora de arrecadar verba para que o projeto continue. “Queremos buscar parcerias com o estado e o município, já temos uma estrutura de contrapartida”, diz a coordenadora do projeto.

A ideia é que o circo possa circular também em outras regionais de Rio Branco e, se possível, em outros municípios acreanos.

Marcus Alexandre, o prefeito de Rio Branco, já demonstrou interesse em perpetuar as ações do projeto. “É um projeto fantástico, que envolve mobilização, capacitação, comunicação e cultura, educação ambiental, esporte. É um trabalho tão bonito que vamos apoiar a continuidade da experiência”, disse.

O que isso significa? Será que o circo vai acabar no Eldorado? Na verdade, não.

Mesmo que não possa continuar na região do Eldorado, o circo fica no aprendizado das crianças, sobre disciplina, trabalho duro, es- forço e treino. Fica na comunidade, que deverá tocar para frente a horta comunitária e os permaquintais. Estará no salão de beleza da Shirlley, ou no trabalho de manicure da Aline.

O Circo Eldorado vive enquanto qualquer pessoa que teve contato com ele utilizar o que aprendeu no projeto para mudar de vida e melhorar a sua realidade e de todos ao seu redor. Você não vai deixar o circo morrer, vai?

Então nos ajude a deixar ele sempre vivo, afinal... O espetáculo tem que continuar!

De onde vem o circo?


Das acrobacias usadas como treinamento pelos guerreiros chineses até a doma de animais na Roma antiga, a arte circense está no mundo a milhares de anos. O primeiro circo a se tornar famoso foi o Circus Maximus, inaugurado no século 6 a.C, que tinha como atrações: corridas de carruagens, lutas de gladiadores, apresentações de animais selvagens e de pessoas com habilidades incomuns. O local tinha espaço para mais de 150 mil pessoas e foi destruído por um grande incêndio.

Com o fim do império romano, os artistas populares passaram a improvisar suas apresentações em praças públicas, feiras e entradas de igrejas. Dessa forma nasciam as famílias de saltimbancos, que viajavam de cidade em cidade para se apresentar com espetáculos de malabarismo, dança e teatro.

O circo moderno, com picadeiro circular e as atrações que até hoje compõem as apresentações circenses, só surgiu na Inglaterra do século 18. Em 1768 o ex-militar inglês Philip Astley inaugurou, em Londres, o Anfiteatro Real das Artes para exibições equestres. Ele começou a alternar as apresentações com números de palhaços, acrobacias e malabarismo para quebrar a seriedade dos espetáculos. O sucesso foi tão grande que o circo inglês começou a ser imitado em todo o mundo.

No Brasil, o circo foi começar no século 19, com as famílias vindas da Europa, que se agrupavam em guetos e faziam interpretações teatrais. Também vieram ao país os ciganos, que eram perseguidos na Europa, e tinham uma ligação forte com o circo. Eles viajavam pelo país e adaptavam seus espetáculos ao gosto da população local, se um número não agradava o público, rapidamente era retirado das apresentações. Entre suas especialidades incluíam-se a apresentação de domadores de ursos, ilusionistas e exibições com cavalos.


Com a palavra, o porta voz da comunidade!


Gratidão. Esta é palavra mais utilizada por Francisco Valeriano, de 61 anos, morador e representante da comunidade do residencial Eldorado, quando o assunto é o projeto Novos Rumos. Pare ele, que está no bairro desde sua criação e conhece de perto as carências do lugar, nada trouxe tantos benefícios para as 517 famílias que residem nos residenciais, além de todas as pessoas que vivem na Regional São Francisco.

A ideia de ter um circo assim, tão pertinho de casa, foi vista inicialmente com estranheza por alguns. Mas, foi assimilada rapidamente por Valeriano. “Desde as primeiras reuniões, quando a proposta foi apresentada, eu já entendi como funcionaria e o que aquilo significaria para nós. Algo muito além da diversão. Eu acreditei e acredito até hoje”, diz.

O projeto financiado pelo Fundo Socioambiental da Caixa esbarrou em algumas dificuldades para sair do papel, como a cheia do Rio Madeira, em Porto Velho (RO), que isolou o Acre dos demais estados e atrasou a chegada dos materiais para a montagem da tenda onde hoje funciona o circo.

Francisco lembra as primeiras impressões que teve ao ver o circo armado. “Senti uma mistura de alegria e satisfação por ter aquele evento ali, onde vivem aquelas pessoas que não tinham onde se divertir. Vi todos alegres por terem aquele espaço. A comunidade não tinha nada de entretenimento ou atividades”, comenta.

Mas nem só de entretenimento vive uma comunidade, muito menos um circo. Pelo menos não este. Ainda segundo seu Francisco, o projeto modificou a vida e a rotina dos moradores de maneira ainda mais profunda, diminuindo a criminalidade, gerando emprego e renda com o oferecimento de oficinas e cursos profissionalizantes, a criação de uma horta comunitária e a promoção de feiras livres.

Do pequeno ao grande, todos foram beneficiados. Trouxe alegria para criançada, cursos de informática, manicure, culinária aos jovens e adultos. São pessoas que estão prontas para exercer uma profissão, uma nova forma de ganhar o pão de cada dia. Quem vai reclamar de algo assim?”, finaliza seu Francisco.

Todo circo tem seu palhaço


Na vida real ele é o Rogério Barcellos, professor de ciências. No mundo encantado do circo - o palhaço “Microbinho” - que faz a alegria da garotada que participa do projeto Rumos ao Novo Eldorado.

Foram dois meses de oficina de circo, com muita diversão, mas também com responsabilidade. Neste período, Microbinho ensinou para as crianças e adolescentes do bairro noções básicas de malabarismo, monociclismo, perna de pau, acrobacia de solo e, claro, como ser um bom palhaço. Já que ele começou a se apresentar artisticamente aos cinco anos de idade.

Durante esse período de trabalho no Eldorado, Rogério, ou o palhaço Microbinho, revela o interesse da meninada pelo mundo do circo. “Eles se amarram, gostam muito. Tem interesse em aprender a técnicas do circo. No começo, eles chegavam e diziam ‘tio, vamos brincar logo disso ou daquilo’. Hoje, eles sabem que o que fazemos aqui é um treino e isso serve muito para a vida deles. Ajuda a ter disciplina e comprometimento”, diz.

Sobre sua participação no projeto, ele afirma com alegria: “Ter uma tenda de circo fixa montada nessa comunidade renova minha esperança como artista”.



“Corre, que tá passando a carroça”


Não existe no Novo Eldorado nenhuma criança que não se anime quando encontra com a carroça colorida chegando pelo residencial, acompanhada por Álvaro Costa, conhecido como o “tio do boi”. Ela é usada para a Rádio da Alegria, que passa pelas ruas dando recados importantes para a comunidade e dicas sobre educação ambiental e sanitária.

De acordo com a coordenadora do projeto, Alcinete Damasceno, a carroça é uma ferramenta comunicacional alternativa, que se torna um atrativo por onde passa. Já foi usada em outro bairro da capital, o Mocinha Magalhães, e deu muito certo.

Aqui, na comunidade, realizamos uma pesquisa que mostra que 98% dos moradores já viram e interagiram com a carroça e suas atividades”, disse.

Também é usada para leituras coletivas, no projeto Carroça da Sabedoria. Todo mundo embarca nela e as histórias começam a ser contadas ao longo do passeio, fazendo a alegria da meninada e despertando a curiosidade e a atenção de quem acompanha a carroça, o boi e a criançada.

No momento em que embarcamos as crianças, elas se tornam protagonistas das histórias, o que faz com que a atividade seja abrilhantada e compartilhada entre to- dos”, finaliza a coordenadora.

A Trupe das Crianças


 A trupe formada por crianças do Circo El Dorado é grande e dinâmica. O grupo pode oscilar entre oito a mais de vinte crianças, dependendo do dia. Alguns já se conheciam das brincadeiras de rua, ou da escola. Eles aproveitam qualquer tempo livre para estar no circo, e quando não estão participando das aulas de arte circense, estão fazendo o curso de dança, pintando ou treinando com os equipamentos do circo.

Nós sentamos com quatro meninos que fazem parte dessa trupe: Bruno da Silva Moura, de 11 anos, Igor di Paula, 11 anos, Pedro Henrique, 13 anos, e Thallik da Silva Oliveira, de 9 anos. Mas eles são uma pequena parte desse grupo de crianças que anima as tardes no Circo Eldorado.

Eles contam que nunca tinham visto um circo pessoalmente. “É muito mais legal ao vivo”, diz Bruno. Igor complementa o pensamento do amigo: “Na televisão é ficção, aqui é a nossa realidade”, explica.


Mesmo assim, nenhum deles deseja trabalhar com o circo quando crescer. “É muito divertido o circo, mas tem que ter muita responsabilidade”, afirma Igor, que ainda não decidiu qual será sua futura profissão. “Ainda sou muito novo para pensar nessas coisas”, diz logo. Já Pedro e Thaillik compartilham o mesmo sonho de ser policial. “E eu vou pro exército”, deseja Pedro.

Os quatro meninos visitam o circo todos os dias e têm opiniões surpreendentes sobre o projeto. Por exemplo, quando perguntamos qual a primeira palavra que vem na cabeça quando pensam no circo, Bruno e Igor logo dizem: responsabilidade e disciplina. “Depois vem a diversão, em terceiro”, completa Pedro Henrique.

Eles logo explicam que a disciplina e a responsabilidade são coisas muito importantes no circo, ensinadas pelos professores e produtores culturais que trabalham no projeto. “Tem a hora de brincar, mas também a hora de levar a bronca”, afirma Igor. O menino, que é o mais falante dos quatro, conta que aprendeu nos últimos meses que é preciso cuidar do circo. “Nós aprendemos a valorizar o circo, preservar. Tem gente que sobe em cima da lona, quebra, rasga. Quando vemos alguém bagunçando, avisamos, porque mesmo que não tenha sido um de nós que quebrou o circo, somos nós que vamos pagar por isso”, explica.


Com o projeto chegando à sua etapa final, os meninos já se preocupam com como vai ser a vida sem o circo. “Quando for embora eu vou viver na minha avó, como eu vivia antes. Eu só ficava na rua”, confessa Pedro Henrique. Bruno também lembra como era a vida antes do circo. “Eu só vivia na internet”, diz. Todos os meninos desejam a continuação do projeto e aproveitam cada momento que podem no circo.

As crianças da trupe são ativas e espertas. Aprendem rápido a mexer nos equipamentos e ninguém quer ficar para trás. Existe uma competição saudável entre eles. Os meninos também são danados. “É preciso ter um pulso firme”, diz Thompson Reis, um dos produtores culturais que trabalha no projeto e o professor de dança. “Se deixar, eles sobem onde não devem, quebram alguns equipamentos, fazem uma bagunça generalizada”, diz.

O “pulso firme” não diminui a admiração que as crianças têm pelos seus professores. “Uma coisa que me marcou no projeto foram os professores, pra mim eles não iam ter esse cuidado que têm com a gente. Pensei que iam ser mais rígidos, como na escola”, diz Igor. Ao seu lado, Bruno ri: “Eu ia falar a mesma coisa. Os professores, isso é o que tem de mais marcante no projeto”, afirma.


A nossa hortinha!

Um pouco sobre permacultura e educação ambiental no Eldorado



O jovem Ismayk de Castro, de 19 anos, é um dos membros da comunidade Eldorado. Junto com Sérgio Aquino, outro agente comunitário, eles produzem e cuidam de uma horta, toda feita de material reciclado. No local é aplicado o conceito de permacultura.

Ismayk conta que encontra no trabalho que faz para a Ciranda uma forma de renda para sustentar a família.“Estamos há três meses trabalhando aqui nesta horta, produzida por pessoas da comunidade. Criamos a estufa e venho aguar todos os dias. Só agora que está começando a brotar, mas vai trazer bons lucros se souber- mos administrar”, diz.

Ele fala sobre o que acredita que o circo e a criação da horta trouxeram de bom pra comunidade. “Eu praticamente não sabia de nada. Agora aprendi um pouco de carpintaria com os meninos, aprendi a cultivar e muitas outras coisas”, afirma.

Alcinethe Damasceno, coordenadora do projeto ‘Novos Rumos’ explica que o terreno foi cedido pela prefeitura de Rio Branco e, além da horta, existe a criação de galinhas, a plantação de ervas medicinais e o uso da reciclagem para construir a estrutura.

Esse espaço serve tanto para a produção, como para o treinamento. É o local onde a comunidade pode aprender sobre cuidados de plantio, fabricação de biofertilizantes, entre outras coisas. Nos quintais que são adequados, nós estamos implantando alguns permaquintais para auxiliar a comunidade”, explica.


O que é permacultura?
O conceito foi criado pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, nos anos 70. De lá para cá, a permacultura passou a ser um método reconhecido na busca de uma cultura sustentável.

Este sistema de planejamento holístico trabalha a favor da natureza, se apropriando de processos naturais, unindo a prática das comunidades tradicionais com o conhecimento científico para estabelecer comunidades sustentáveis.

No planejamento destas comunidades, além do ambiente físico, é preciso considerar os aspectos sociais, econômicos, culturais e espirituais como parte imprescindível dos projetos.


terça-feira, 3 de março de 2015

Um circo em minha vida...


Aos onze anos de idade, Igor Di Paula nunca tinha ido ou visto um circo de perto, somente pela TV. Até que um dia o projeto Rumos ao Novo Eldorado chegou à comunidade e mudou completamente a história do menino.

Foi como mágica! Um dia ele acordou e tinha um circo bem ali, na sua frente, com direito a palhaço, malabarismos, saltos, monociclo, rola-rola, carretel e o preferido dele: o diabolô.

Mas nem só de brincadeiras é feito o circo do Igor... Ele conta que o espaço trouxe, além da diversão, aprendizado e responsabilidade. Nos últimos meses, ele aprendeu a se comportar melhor, respeitar as pessoas e preservar o ambiente em que vive. “Foi uma mudança incrível na minha rotina”, disse.

E quando questionado sobre o que pensa do circo, ele encantadoramente responde: “Na minha mente só vem felicidade, carinho e gratidão”.

Com a palavra, a mãe:
Desde que a dona de casa Simone Di Paula, mais conhecida como “a mãe do Igor”, foi morar no Eldorado, há quatro anos, ela se preocupa com a violência no local. “Antes eu vivia em outro bairro, em uma casa alugada. É muito bom deixar de pagar aluguel, uma preocupação a menos. Eu não conseguia nem dormir. Mas o bairro aqui é meio perigoso”, reclama.

Quando o circo chegou, ela pôde suspirar aliviada. Finalmente um lugar que o filho pudesse brincar, se divertir e aprender coisas novas. “É melhor do que ficar brincando na rua. Aqui no bairro existe um índice grande de drogas, então a gente tem medo que as crianças se envolvam com traficantes”, diz.

Para ela, o projeto é uma “ocupação” para as crianças. “No circo eles têm responsabilidade. Entram e saem na hora certa”, comenta.




quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A plaquinha no portão

 Histórias de empreendedorismo no Eldorado 


Aline Oliveira, de 15 anos, nunca pensou que poderia aprender uma profissão no circo. Mas, diferente das crianças que visitam o projeto Rumos ao Novo Eldorado, ela não aprendeu malabarismo, rola-rola ou a andar de monociclo. Ela descobriu como fazer unhas. “Eu não sabia nem para onde ia”, ri.

Durante dias ela participou, mesmo sem ter a idade mínima necessária, de um curso de manicure e pedicure oferecido na comunidade. “Eu não podia fazer porque só tenho 15 anos, e era para adultos. Mas eu queria muito aprender, então fui apenas como ouvinte. No final, decidiram me dar o certificado”, conta.

O novo conhecimento virou profissão quando Aline decidiu pendurar uma pequena plaquinha no portão de sua casa Manicure e Pedicure. Ela agora se orgulha de conseguir uma renda extra devido ao curso. “Já tenho minhas clientes”, comemora.

O curso de manicure faz parte de uma grande quantidade de atividades que foram ofertadas para a comunidade, tais como os cursos de informática, atendimento ao cliente, culinária, atividades esportivas, entre outros.


Em breve, um salão...
Aline não é a única empreendedora. A cabeleireira Shirlley Oliveira, de 28 anos, ganhou do projeto 'Rumos ao Novo Eldorado' um kit de cabeleireiro, com direito a duas cadeiras, uma para corte e outra lavatório. Os itens foram adquiridos através de parceria com a Secretaria Estadual de Pequenos Negócios e possibilitaram que a cabeleireira realizasse o sonho de abrir um salão na comunidade.

O espaço está sendo construído na antiga varanda de Rosa Mística, vizinha de Shirlley, que trabalha com limpeza de pe- le.“Decidimos nos unir e trabalhar. A ideia é ter um espaço para todos os talentos da comunidade”, diz.

As outras profissionais trariam seus materiais de trabalho e só pagariam uma porcentagem para manutenção do espaço.


Duas primas e um salão
Luzia da Silva e Geane da Silva serão as novas empreendedoras da comunidade Eldorado. As duas são primas e participaram do curso de manicure pelo projeto. Luzia já tinha experiência e agora aguarda o seu kit de manicure, que será entregue pelo Governo do Estado por meio da Secretaria de Pequenos Negócios. Em janeiro, as duas irão fazer o curso de cabeleireiro para então abrir o negócio.

O curso foi realizado pelo SENAC no espaço do circo, o que facilitou a participação, pois Geane tem uma filha de 3 anos e precisava levá-la ao curso. Enquanto ela aprendia a fazer unhas, sua pequena Irene se divertia na companhia dos monitores do circo. Mal sabia ela que sua mãe estava prestes a ter uma profissão que vai gerar renda extra para toda a família.

Se o curso não tivesse vindo até a comunidade, eu e outras mães não teríamos feito. O projeto, trazendo esses cursos para nós, fez toda a diferença na nossa vida. Só posso agradecer! Tudo agora vai mudar”, comenta emocionada, Geane da Silva.




Erguendo o sonho do Circo Eldorado

Dono de uma fábrica de comenta de lona no Rio de Janeiro, o engenheiro Luiz Alexandre foi quem, literalmente, ergueu o sonho do circo na comunidade. Por acreditar na iniciativa, o convite recebido em junho deste ano para participar de forma tão especial do projeto Rumos ao Novo Eldorado, foi aceito sem pestanejar.

É algo que muda o meio social. Com as múltiplas atividades trazidas, está atingindo a todos. Com as inúmeras oficinas e cursos, deu oportunidade a essas pessoas de terem uma profissão, ou outra alternativa. E a partir daí, vão começar a rentabilizar de alguma maneira”, acredita.

A Ozon Lonas está no mercado há quase 25 anos, mas o circo está na vida de Alexandre há muito mais tempo. “Eu praticamente já nasci dentro da lona. A família toda trabalhou com o circo, desde o meu bisavô. Então é uma coisa de berço”, comenta. Na década de 70, o circo Hong Kong, que pertenceu à família do engenheiro, viajou o mundo durante seis anos passando pelos quatro continentes.



Apesar de ter nascido e se criado por uma família circense que viajou pelo Brasil, ele confessa nunca ter montado uma tenda tão longe. “Desde que comecei a atividade de fabricação em lona, já mandei material para longe, mas montar, assim, não”, comenta. O palco do circo no Eldorado também foi fabricado e montado pela empresa de Alexandre.

Mas a contribuição de Ozon não para por aí. Com a experiência que traz na bagagem, ele ajuda a manter o circo armado e funcionando em perfeitas condições para atender ao Eldorado. “Desde a orientação para manutenção, conservação, até as tarefas mais simples do dia a dia eu estou disposto a ajudar. Uma vez estando aqui, por exemplo, vou ali trocar um pneu”, brinca.


Do trapézio à lona
Até os 24 anos, a vida de Ozon era no trapézio. Orgulhoso do ofício, ele via o circo como um meio de ganhar a vida fazendo o que ama e, de quebra, conhecendo o seu país. “É uma profissão, como outra qualquer, mas com vários benefícios. Poucas profissões propiciam às pessoas a oportunidade de fazer essa troca de experiências, viagens e intercâmbio cultural”, afirma.






Como tudo começou..


Foi erguida em agosto deste ano, na cidade de Rio Branco, localizada em meio à floresta Amazônica, uma enorme tenda de circo no residencial Eldorado, um lugar com projetos habitacionais feitos pelo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Uma novidade na comunidade, muitos ali nunca tinham visto uma estrutura como aquela tão de perto. Era o projeto Rumos ao Novo Eldorado: Uma experiência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável no Acre que fincava o pau de roda (estrutura de metal) e estendia a lona para criar um show com a própria comunidade. Mas a preparação para aquele momento começou bem antes do mês de agosto.

Alcinethe Damasceno, coordenadora do projeto, lembra que o Novos Rumos, como também é conhecido, é financiado pelo Fundo Socioambiental da Caixa. Ela se orgulha da ação ser uma das onze iniciativas aprovadas em todo o país no Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Território (DIST). “No Brasil inteiro foram universidades, ONGs, institutos, e só no Acre venceu uma empresa, no caso a Ciranda, que trabalha com cultura, comunicação e meio ambiente”, conta.

Usar uma estrutura de circo para fazer as atividades na comunidade sempre foi um diferencial do projeto. “Essa proposta de ter o circo é pela itinerância, as possibilidades que o circo nos permite, de ser um espaço amplo, lúdico, que atenda às necessidades da comunidade, que não tem espaços comunitários”, afirma Alcinethe.

Depois do projeto aprovado, foram reuniões, passeios, pesquisas, mais reuniões, contatos, trocas de ideias, atividades... Um exemplo foi o passeio feito com a comunidade no Centro Histórico do Quixadá, local histórico que existe na regional.

Fizemos uma expedição no Sítio Histórico do Quixadá, com um ator representando um idoso, para conhecer esse território histórico e geográfico. Porque essas pessoas vieram de outros locais e não conheciam a região onde estavam vivendo. Faz parte do nosso trabalho criar essa nova unidade, estabelecer um vínculo entre os moradores e o lugar”, afirma.



Também foi construída uma relação entre as pessoas que trabalhavam no projeto e as que viviam no local antes de finalmente o circo ser erguido. “Não tínhamos a tenda grande, então substituímos por pequenos gazebos e as atividades aconteciam da mesma forma: nos terreiros, nas ruas, espaços que conseguíamos ter uma manutenção. Ocorriam atividades com palhaços, de educação ambiental, grafite, cinema, dança e esporte”, lembra a coordenadora.

E olha que este não foi um ano fácil para o projeto. Muitos obstáculos tiveram que ser superados. O Rio Acre alagou, deixando inúmeras famílias desabrigadas. O Rio Madeira transbordou e o Acre ficou isolado por semanas do restante do Brasil, impedindo que alimentos, encomendas e o circo chegassem ao estado. A Copa atrasou ainda mais o projeto, porque no país do futebol, um evento como esse praticamente parou o Brasil por um mês. E ainda teve a eleição! Devido a tantas dificuldades, muitas coisas do projeto original precisaram ser adapta- das. Mas, em meio a tudo isso, o circo se ergueu e as atividades começaram. E com todas elas, as transformações lentas, gradativas, mas intensas.

O projeto vai além do lúdico, da cultura ensinada por meio da arte circense. Com produção de uma horta comunitária, hortiquintais e ensinamentos sobre a permacultura, a educação ambiental é um forte pilar desse projeto. A geração de renda e a economia criativa também são fatores importantes do trabalho, que trouxe benefícios sociais para a comunidade.

Quando a gente pensa em uma lona de circo, pensa em tudo que pode se movimentar em torno dela: aglomeração de pessoas, a geração de renda a partir dessa tenda, o aperfeiçoamento de produtos e serviços, tudo isso acontecendo dentro de feiras. Entendemos a cultura como uma base forte, realmente de transformação e de mudança social”, afirma Alcinethe.


A atividade circense vem aglomerar as pessoas e os ensinamentos nas diversas áreas. É a transformação através da cultura, do meio ambiente e da tecnologia social.

Porque aspectos culturais conseguem alcançar a comunidade em todas as faixas etárias. A gente tem visto isso. Se constituiu um grupo de adolescentes e crianças, que já fizeram apresentações, apesar do pouco tempo de oficinas para a atividade circense. Mas, levando em conta que aqui no Acre somos uma comunidade com a tradição de terreiros e quintais, as pessoas brincam na rua, saltam... Essas habilidades estão nas nossas crianças e isso é um potencial muito grande”, acredita a coordenadora.

Neste site, você vai descobrir mais sobre esse projeto e como ele, aos poucos, foi modificando a vida no Eldorado.