A trupe formada por crianças do Circo El Dorado é grande e dinâmica. O grupo pode oscilar entre oito a mais de vinte crianças, dependendo do dia. Alguns já se conheciam das brincadeiras de rua, ou da escola. Eles aproveitam qualquer tempo livre para estar no circo, e quando não estão participando das aulas de arte circense, estão fazendo o curso de dança, pintando ou treinando com os equipamentos do circo.
Nós
sentamos com quatro meninos que fazem parte dessa trupe: Bruno da
Silva Moura, de 11 anos, Igor di Paula, 11 anos, Pedro Henrique, 13
anos, e Thallik da Silva Oliveira, de 9 anos. Mas eles são uma
pequena parte desse grupo de crianças que anima as tardes no Circo
Eldorado.
Eles
contam que nunca tinham visto um circo pessoalmente. “É muito
mais legal ao vivo”, diz Bruno. Igor complementa o pensamento do
amigo: “Na televisão é ficção, aqui é a nossa realidade”,
explica.
Mesmo assim, nenhum deles deseja trabalhar com o circo quando crescer. “É muito divertido o circo, mas tem que ter muita responsabilidade”, afirma Igor, que ainda não decidiu qual será sua futura profissão. “Ainda sou muito novo para pensar nessas coisas”, diz logo. Já Pedro e Thaillik compartilham o mesmo sonho de ser policial. “E eu vou pro exército”, deseja Pedro.
Os
quatro meninos visitam o circo todos os dias e têm opiniões
surpreendentes sobre o projeto. Por exemplo, quando perguntamos qual
a primeira palavra que vem na cabeça quando pensam no circo, Bruno
e Igor logo dizem: responsabilidade e disciplina. “Depois vem a
diversão, em terceiro”, completa Pedro Henrique.
Eles
logo explicam que a disciplina e a responsabilidade são coisas
muito importantes no circo, ensinadas pelos professores e produtores
culturais que trabalham no projeto. “Tem a hora de brincar, mas
também a hora de levar a bronca”, afirma Igor. O menino, que é
o mais falante dos quatro, conta que aprendeu nos últimos meses que
é preciso cuidar do circo. “Nós aprendemos a valorizar o circo,
preservar. Tem gente que sobe em cima da lona, quebra, rasga. Quando
vemos alguém bagunçando, avisamos, porque mesmo que não tenha
sido um de nós que quebrou o circo, somos nós que vamos pagar por
isso”, explica.
Com o projeto chegando à sua etapa final, os meninos já se preocupam com como vai ser a vida sem o circo. “Quando for embora eu vou viver na minha avó, como eu vivia antes. Eu só ficava na rua”, confessa Pedro Henrique. Bruno também lembra como era a vida antes do circo. “Eu só vivia na internet”, diz. Todos os meninos desejam a continuação do projeto e aproveitam cada momento que podem no circo.
As
crianças da trupe são ativas e espertas. Aprendem rápido a
mexer nos equipamentos e ninguém quer ficar para trás.
Existe uma competição saudável entre eles. Os meninos também
são danados. “É preciso ter um pulso firme”, diz Thompson
Reis, um dos produtores culturais que trabalha no projeto e o
professor de dança. “Se deixar, eles sobem onde não devem,
quebram alguns equipamentos, fazem uma bagunça generalizada”,
diz.
O
“pulso firme” não diminui a admiração que as crianças
têm pelos seus professores. “Uma coisa que me marcou no projeto
foram os professores, pra mim eles não iam ter esse cuidado que
têm com a gente. Pensei que iam ser mais rígidos, como na
escola”, diz Igor. Ao seu lado, Bruno ri: “Eu ia falar a mesma
coisa. Os professores, isso é o que tem de mais marcante no
projeto”, afirma.
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