sexta-feira, 6 de março de 2015

A Trupe das Crianças


 A trupe formada por crianças do Circo El Dorado é grande e dinâmica. O grupo pode oscilar entre oito a mais de vinte crianças, dependendo do dia. Alguns já se conheciam das brincadeiras de rua, ou da escola. Eles aproveitam qualquer tempo livre para estar no circo, e quando não estão participando das aulas de arte circense, estão fazendo o curso de dança, pintando ou treinando com os equipamentos do circo.

Nós sentamos com quatro meninos que fazem parte dessa trupe: Bruno da Silva Moura, de 11 anos, Igor di Paula, 11 anos, Pedro Henrique, 13 anos, e Thallik da Silva Oliveira, de 9 anos. Mas eles são uma pequena parte desse grupo de crianças que anima as tardes no Circo Eldorado.

Eles contam que nunca tinham visto um circo pessoalmente. “É muito mais legal ao vivo”, diz Bruno. Igor complementa o pensamento do amigo: “Na televisão é ficção, aqui é a nossa realidade”, explica.


Mesmo assim, nenhum deles deseja trabalhar com o circo quando crescer. “É muito divertido o circo, mas tem que ter muita responsabilidade”, afirma Igor, que ainda não decidiu qual será sua futura profissão. “Ainda sou muito novo para pensar nessas coisas”, diz logo. Já Pedro e Thaillik compartilham o mesmo sonho de ser policial. “E eu vou pro exército”, deseja Pedro.

Os quatro meninos visitam o circo todos os dias e têm opiniões surpreendentes sobre o projeto. Por exemplo, quando perguntamos qual a primeira palavra que vem na cabeça quando pensam no circo, Bruno e Igor logo dizem: responsabilidade e disciplina. “Depois vem a diversão, em terceiro”, completa Pedro Henrique.

Eles logo explicam que a disciplina e a responsabilidade são coisas muito importantes no circo, ensinadas pelos professores e produtores culturais que trabalham no projeto. “Tem a hora de brincar, mas também a hora de levar a bronca”, afirma Igor. O menino, que é o mais falante dos quatro, conta que aprendeu nos últimos meses que é preciso cuidar do circo. “Nós aprendemos a valorizar o circo, preservar. Tem gente que sobe em cima da lona, quebra, rasga. Quando vemos alguém bagunçando, avisamos, porque mesmo que não tenha sido um de nós que quebrou o circo, somos nós que vamos pagar por isso”, explica.


Com o projeto chegando à sua etapa final, os meninos já se preocupam com como vai ser a vida sem o circo. “Quando for embora eu vou viver na minha avó, como eu vivia antes. Eu só ficava na rua”, confessa Pedro Henrique. Bruno também lembra como era a vida antes do circo. “Eu só vivia na internet”, diz. Todos os meninos desejam a continuação do projeto e aproveitam cada momento que podem no circo.

As crianças da trupe são ativas e espertas. Aprendem rápido a mexer nos equipamentos e ninguém quer ficar para trás. Existe uma competição saudável entre eles. Os meninos também são danados. “É preciso ter um pulso firme”, diz Thompson Reis, um dos produtores culturais que trabalha no projeto e o professor de dança. “Se deixar, eles sobem onde não devem, quebram alguns equipamentos, fazem uma bagunça generalizada”, diz.

O “pulso firme” não diminui a admiração que as crianças têm pelos seus professores. “Uma coisa que me marcou no projeto foram os professores, pra mim eles não iam ter esse cuidado que têm com a gente. Pensei que iam ser mais rígidos, como na escola”, diz Igor. Ao seu lado, Bruno ri: “Eu ia falar a mesma coisa. Os professores, isso é o que tem de mais marcante no projeto”, afirma.


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